sábado, 9 de fevereiro de 2019

O SIMBOLISMO MÍSTICO DO XADREZ




A primeira coisa que nos salta à vista quando olhamos para um tabuleiro de xadrez é o contraste de cores nos quadrados e nas peças (que podem variar dependendo do tabuleiro entre branco e preto, amarelo e verde etc). Qual seria o significado mais místico deste contraste?

Comecei por esta característica por ser a mais notória e a mais elementar do jogo de xadrez: a polaridade ou dualidade. O contraste de cores dos quadrados e peças no tabuleiro de xadrez nos remete a manifestação dual de todas as coisas no Universo, tal como no taoísmo encontramos o princípio das duas forças distintas e complementares (a Yin e a Yang) bem como o princípio hermético da polaridade.

Isso não vem só representar a existência desta dualidade como a necessidade dela mesma no processo evolutivo do Universo. Dessa forma para que a vitória no jogo seja alcançada é necessário que duas "forças" opostas entrem em atrito, da mesma forma para que a evolução ocorra é necessário o contraste entre a polaridade Yang e a polaridade Yin.

Outra coisa interessante de observamos é que o xadrez é basicamente um jogo de movimento, o que já pode nos dar várias lições como de que tudo no Universo está em constante movimento e transformação (No Budismo isto se chama de Anicca - Impermanência, uma das três qualidades do Universo) e que para que possamos estar em harmonia com o Universo devemos acompanhar esta movimentação nos transformando e evoluindo (que nada mais é do que passar de um estado para outro).

O tabuleiro igualmente é divido em seções de oito casas verticais e horizontais, o que também revela o simbolismo muito profundo, tal como o Caminho Óctuplo Budista, os oito Sabbats pagãos (os ciclos da Natureza),  e interessante que no Lunividencia o oito é o número da Serpente, símbolo da Sabedoria, do Conhecimento e da Regeneração. Na Astrologia o oito é o número da casa de Escorpião, mais uma vez remetendo a ideia de transformação e do renascimento (o ciclo de Samsara).

Na árvore da vida por sua vez o oito é o número da Séfira de Hod (Esplendor), diretamente ligada ao planeta Mercúrio, que representa conhecimento, racionalidade e comunicação, características muito pertinentes ao jogo da mente, já que este estimula o desenvolvimento da inteligência lógico-matemática e verbal.

A base quadrangular do tabuleiro é grandemente enfatizada, evocando também o extenso simbolismo do número quatro: os quatro elementos, as quatro fases da Lua, os quatro pilares da magia, os quatro planos básicos de existência (físico, emocional, mental e espiritual), as quatro estações do ano, as quatro eras do mundo ou Yugas, as quatro Nobres Verdades. Além disso o número quatro evoca as idéias de estabilidade, firmeza e praticidade.

Portanto cada peça do xadrez nos pode ensinar uma lição, já que todas elas se movimentam em conjunto para atingir um mesmo objetivo, que é dar xeque-mate no rei adversário. Só o fato de elas atuarem em conjunto e coordenadamente nos mostra simbolicamente a interconexão que existe entre todas as coisas e a necessidades de transpor a consciência egoísta para a Consciência Universal.

O adversário é o representante do nosso ego que precisa ser transcendido, observe que o rei não é capturado mas é cercado e imobilizado pelas peças adversárias, o que significa que a nossa individualidade não deve ser literalmente destruída, mas se tornar consciente de que ela faz parte de um todo maior. Assim o rei adversário (o nosso ego) é imobilizado e o nosso ego "morre", para renascer como Consciência Universal.

O Rei também nos tem a ensinar que para alcançarmos a vitória é necessário Prudência e Paciência, por isso o rei só se movimenta quando necessário e não tem pressa em se deslocar, já que só anda uma casa de cada vez. O rei não é uma peça atacante por natureza, o que nos mostra a necessidade de quietude interior e de primar pela Paz e pela Harmonia.

A Dama é uma peça bastante expansiva que no jogo pode assumir os mais variados movimentos (só não executa o movimento do cavalo) e nos deixa a lição de que para vencermos é preciso de Adaptação também às situações e aprender com os outros. Deixa a lição também que por mais habilidosos que sejamos, não é possível termos todos os dons (como lhe falta o movimento do cavalo). Como ela se desloca para as oito direções, ela nos inspira a buscarmos o Crescimento  pessoal e a Expansão dos nossos horizontes

A Torre por já ser um símbolo de Observação nos deixa a lição de que devemos prestar Atenção em tudo e em todos à nossa volta para podermos alcançar o Entendimento, pois Conhecimento é apenas informação se não for entendido. A Observação e a Atenção é a base da sabedoria. Ela nos ensina também a protegermos aquilo que é mais importante para nós (por isso no início do jogo elas ficam estrategicamente guardando  o território do rei e mal se deslocam inicialmente).

O Bispo é o símbolo da Fé sem a qual é impossível alcançar qualquer objetivo e como este apesar de percorrer grandes distâncias no tabuleiro só conseguirem agir na metade dos quadrados do jogo (de apenas uma coloração) nos dá uma lição de Persistência e de Autoconfiança de que apesar das suas limitações, pode contribuir para a equipe de peças atingir a vitória.

O Cavalo é  o símbolo da Força e da Liberdade, pois só com Força de Vontade para superar todos os obstáculos (O cavalo é a única peça capaz de pular outras) é que podemos realmente atingir a libertação que almejamos. 

O Peão é o símbolo da Coragem e da Humildade (ele é a mais baixa das peças e a que tem os movimentos mais limitados), apesar do seu pequeno poder de movimento, o Peão é geralmente primeiro a se mover (às vezes o Cavalo se move primeiro) e sempre se move para frente sem nunca retroceder. A recompensa do Peão que cruza todo tabuleiro (o que é bem difícil) é se tornar na peça maior que ele quiser. Assim ele nos ensina a não desistir dos nossos sonhos e a seguir em frente, "dizendo" que é possível se tornar aquilo que desejamos.

É interessante notar que no xadrez nenhuma peça se move para o seu próprio interesse, ou as peças se movem para defender o seu rei ou no caso do rei, para defender os seus "súditos". Todas estão em sincronia com um objetivo comum desprovido de interesses egoístas.

E o xeque-mate ou a vitória no jogo, se considerarmos o rei como o simbolismo do nosso ego, consiste na própria Iluminação, ou na transcendência do próprio ego e da dualidade, entendendo que para que houvesse a Vitória, foi necessário o embate entre as polaridades aparentemente opostas. Faz parte também da anulação da dualidade dizer que não existe perdedores neste jogo, pois até aquele que é supostamente derrotado aprendeu a lição e adquiriu conhecimento. Vale à pena praticar a nobre arte do xadrez e aprender cada vez mais da filosofia profunda que este jogo encerra!

Sol Rhui

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