terça-feira, 5 de março de 2019

ENTREVISTA DE FERNANDO SILVA SOBRE TAROT MEDIEVAL E ORÁCULOS POR SOL RHUI




ENTREVISTA DE FERNANDO SILVA SOBRE TAROT MEDIEVAL POR SOL RHUI 

1) Sol Rhui: Fale-nos um pouco sobre o tarot medieval e o seu trabalho com este oráculo 

Dentre vários tipos de tarot, temos os de tipo medieval, a qual poderíamos citar vários num subsegmento, tendo cada qual seu artista e seu simbolismo oculto, mas que profundamente estão relacionados por um padrão de simbologia iniciática. Temos os tarots que realmente nasceram de uma época da Europa medieval, bem como temos tarots modernos que usam a sua parte artística inspirada na arte medieval. Importante fazer essa diferenciação pois na modernidade temos 2 interpretações distintas entre as correspondências cabalísticas no que tange aos arcanos maiores. O intuito aqui não é colocar uma como certa outra como errada, mas destacar que essa evolução na interpretação só se deu explicitamente no ocultismo moderno. 

Tendo explicado essa questão o tarot que uso é o de Giovanni Vachetta, e aqui confesso que o nome medieval é muito mais atrativo do que renascentista que é sua natureza de fato. Esse tarot é inspirado em simbologia do contexto medieval tal como citei acima, tem sua tradicionalidade ainda ligada a primeira interpretação da correspondência hebraica, porem seu artista, concebeu a obra no final do século XIX, sendo bem distante de uma cosmovisão medieval de fato. Entendendo que as adaptações se fazem necessárias para compreensão melhor do publico geral adotei essa roupagem de “medieval”. 

Esse tarot segue como todos outros tarots com a mesma temática, o padrão de símbolos já citado alterando apenas a imagem da figura da carta, mas mantendo a forma pensamento oculta intacta. Essa questão de diferenciação é que enriquece o mundo do tarot, independente das interpretações cada qual se enquadra no mesmo sistema que é sutil, abstrato, e tão assertivo ao mesmo tempo. 

O meu uso com ele está relacionado a leituras que faço a distância, e particulares, previsões, conselhos, direcionamentos quanto ao que está escondido ou oculto. Prefiro adota-lo pessoalmente como guia iniciático, e quando tenho oportunidade demonstrar a mesma possibilidade de leitura a outros que tenham interesse de aprender esse conhecimento por conta própria. 

2) Sol Rhui: Você já usou outros tipos de tarots ou oráculos? O que você acha que mais diferencia o tarot medieval dos outros oráculos? 

Nunca fiz o uso de outro tarot, tenho algo particular quanto a energia confiança que esse me passa. Tenho um carinho especial devido ao fato de ter adquirido a muito tempo, apesar de tê-lo comprado, o fiz de um artista que o desenhou a mão especialmente para minha pessoa, e o fez com bastante cuidado e esmero. Acredito que invariavelmente isso potencializa-o frente a qualquer outro. Não os desmereço e acredite em breve farei estudo de outros, mas fico feliz com o que chegou até minha pessoa. Também nunca usei outro oráculo, apesar de conhecer numerologia, confesso que em minhas leituras de tarot também faço o uso da mesma quando necessário. Eu acredito na ciência oculta explicita nos seus símbolos, mas também acredito que é necessário ter olho treinado para identificar isso. A verdade é que considero grande parte dos oráculos simples muletas para se observar a verdade, mas somos imbuídos de espírito investigativo dado determinadas motivações, o tarot é a minha. Ainda acredito que sua ligação com outros sistemas o faz uma espécie de elo forte da corrente oracular, envolvendo conhecimentos de cabala numerologia entre outros muito significantes para os esoteristas ocidentais. E ainda sua ligação histórica com a medievalidade a qual teve grande difusão primeiramente como um simples jogo de cartas, e aqui de diferentes padrões... foi somente tempos depois que recebeu seu espaço dentro da filosofia oculta. 

3) Sol Rhui: A prática do tarot e a criação do tarot medieval guarda alguma relação com os templários? 


Não diretamente, mais por uma convenção social propriamente dito. Vendo a época em que ambos ocupam na história, desde o mercador até os clérigos, os nobres e também os cavaleiros em algum momento tiveram contato com esse jogo. Entendendo que possivelmente a ideia de divinação e ressignificação das cartas tenha se dado séculos depois, não podemos descartar a hipótese que mesmo nessa época já haviam iniciados codificando tarots iniciáticos. O tarot tem relação intima com o ocultismo islâmico e hebreu, o contato de povos europeus na terra santa gerou sim uma mistura de conhecimentos que ficaram ocultos da maior parte da população em geral, então se pudéssemos falar em relação seria por contexto social muito mais do que uma relação causadora de fato. 



4) Sol Rhui: O que mais o impressiona no trabalho com oraculismo? 

De todas as perguntas feitas ao tarot, as que eu mais gosto de responder estão ligadas as coisas ocultas ou escondidas. Buscas espirituais de fato. As ligações do cotidiano revelam-se surpreendentes as vezes, mas quando algo escondido é revelado ou uma mentira exposta e eu consigo ver isso nas cartas e avisar o consulente eu sinto junto com o ele o mesmo alivio. 

Eu acho que essa capacidade de surpreender o descrente é a mais impressionante de todas. Por vezes eu mesmo sou cético, por vezes a leitura é tão evidente que nem precisa de interpretação, até o mais leigo pode entender. Essa evidencia é que impressiona, força a ser sincero, por mais que se busque meias palavras. O poder da egrégora oracular agindo de forma misteriosa, que apesar de esperada sempre impacta no resultado. 

5) Sol Rhui: Quais atributos e virtudes você acha que a senda oracular desenvolve? 

Eu poderia simplificar dizendo que desenvolve a intuição, a introspecção e a dedução. Isso como um atributo superficial a primeira vista, como virtudes a linha é bem mais tênue. Para falar primeiro em virtude preciso contextualizar os vícios que isso pode ocasionar. Em reflexão junto ao ego exacerbado de muitos acertos que podem levar a uma desilusão quanto a propriedade oracular inata de cada um. Isso não é um jogo para si mesmo, envolve uma significação única no momento de cada consulta que continua reverberando na vida de cada consulente. Esse respeito nos remete a um segundo ponto onde é, saber separar o que é ajuda do que é consulta. Outro vicio a ser trabalhado é o da ganancia, ser escravo do próprio poder oracular e do seu resultado. E dentro ainda desse perigo de enaltecer o ego, criar a dependência, ter servos. Toda leitura deve ser em si um momento para libertar as amarras, não de criar mais. É possível dar o direcionamento se a pessoa possui o conhecimento para isso sem cobrar mais nada e sem marcar outra consulta, ajudar de fato seu consulente.
Tendo posto isso, usando agora de analogia dos contrários, podemos chegar a síntese das virtudes que o tarot desenvolve... a não pratica de tudo que já foi citado. Como disse essa linha é muito tênue, uma vez que se esforce para entender o sistema e emprega-lo uma vez obtendo sucessos em seus experimentos de leitura é fácil precipitar-se num abismo de egoísmo profundo. Porem tendo vencido esse perigo, obtem-se uma chave de interpretação das ciências ocultas muito útil. Desenvolve-se a temperança como virtude numero um, entendendo o que é excesso e limite dentro das leis universais, desenvolve a fortaleza dando segurança na interpretação espiritual da vida, e a diligencia que faz entender que cada coisa tem seu tempo e seu ritmo não havendo porque de ansiedade. 

6) Sol Rhui: Há quanto tempo você estuda sobre a espiritualidade, e por quanto tempo já estuda e pratica oraculismo? 

Eu estudo o tema desde os meus 14 anos, isso começou mais como algo me incomodava profundamente muito mais do que a outras pessoas. Eu simplesmente não me contentava com as mesmas respostas postas pela tradição em todos os nichos. Assim fiz o que qualquer inquieto faria, fui atrás, primeiro lendo livros e questionando sendo cada vez mais cético e impertinente. Esse caminho me conduziu a vários caminhos diferenciados, mas quase todos dentro do mesmo sistema de ocultismo ocidental. A pratica do oraculismo se deu tempos depois, aproximadamente nos meus 20 anos de idade, tive contato com pessoas da área em que participei de consultas e tive oportunidade de fazer estudos. Como já estava estudando ocultismo bem antes disso, me foi mais fácil absorver a ideia em si do tarot e emprega-lo primeiramente na interpretação da minha própria espiritualidade e depois em consultas pessoais. 

7) Sol Rhui: Você acredita que os estudos (tanto pessoais como por meio de cursos ou adquiridos em grupos ou ordens) e a experiência em determinada prática mágica (tal como oraculismo) fazem a diferença? Por quê? 

Sim acredito que podem fazer diferença tanto para bem quanto para mal. Veja é importante esclarecer que existe um conceito oculto posto na código das cartas. É complexo por em palavras, mas isso precisa ser respeitado, pelo menos observado nas suas abstrações. Tendo isso em vista é necessário que o curso por exemplo seja dado por aquele que consegue ver essas interpretações independente do tarot que tenha em mãos. Parece uma tarefa impossível, e hoje com a infinidade de tarots que possuímos realmente o é. Mas esse esforço deve ser observado profundamente. É o que define a influencia boa de ruim. Se for um cego a guiar o estudante ambos irão para o abismo, nesse sentido é bom que o estudante primeiro estude coisas mais simples a respeito de simbologia oculta e hermetismo por exemplo, para calçar-se e conseguir separar o joio do trigo. 

8) Sol Rhui: Você segue ou já seguiu algum caminho espiritual específico? Qual? 

Sou nascido na tradição judaico-cristã de família. Acredito que tradicionalmente não deva negar minha raiz e seguindo o que preza os conselhos de ocultistas anteriores é não abandone sua raiz religiosa, mas compreenda-a verdadeiramente livre de dogmas. Dado isso não sigo organizações não devo responsabilidades com qualquer ordem, já frequentei e fiz parte em outros momentos da minha vida a qual me desenvolveram grandemente no caminho da espiritualidade, mas atualmente busco no caminho do eremita. Nesse sentido, gosto de pensar que sou uma espécie de cristão não aos moldes da tradição, mas por convicção de meus próprios estudos. E dizendo isso eu realmente busco ser radical em minhas interpretações e cientifico suficiente para admitir o inverso do que já esta socialmente concebido. Assim minha senda espiritual é iniciática, não tendo vínculos com homens ou grupos, puramente individual mas com o todo ao mesmo tempo. É mais como uma consciência que depois de desperta não pude mais nega-la e que tenho que alimenta-la frequentemente, porque a fome dela é minha fome. Uso então do que está já posto na mística e esoterismo ocidental, e em matéria de ocultismo é natural que se englobe inúmeros símbolos de distintas culturas, importando de fato os seus arquétipos. 

9) Sol Rhui: Você acredita que o trabalho com o oraculismo também traz desafios e responsabilidades? 

Sim de fato, é difícil fazer leituras tristes e arranjar palavras. De inicio pode parecer inocente mas como todo terapeuta também precisa de terapia. Nesse sentido há um peso de fato de responsabilidade e compromisso com o trabalho oracular. As vezes numa leitura pode-se destruir um sonho ou levar a uma ilusão futura desagradável. 

10) Sol Rhui: O que você aconselharia para quem está começando no caminho espiritual, especialmente no trabalho com oráculos? 

Muita meditação em cada símbolo e significado de seu oraculo. Seja la qual escolheu, dedique diariamente pelo menos 1 hora de meditação em cima de cada símbolo, faça anotações, o importante é a familiarização com as ideias ou formas pensamento e acessar a vibração conseguindo construir a manifestação que se espera. Estudo e dedicação séria, não tomando isso como mero objeto de brincadeira, pois ele pode abalar psicologicamente pessoas despreparadas, afastando aqui qualquer ideia de bruxaria ou espiritismo, simplesmente por se inventar uma ideia e dize-la sem propriedade a alguém que já esta com o emocional debilitado. Então o Tarot é uma ciência complexa, apesar de parecer simples aos olhos de quem consulta, ela surpreende muitas vezes dias depois da consulta fazendo a pessoa ou torcer o nariz ou te procurar novamente. O ultimo conselho tem haver com isso, tente não se envolver emocionalmente, aqui a separação é ainda mais sutil é de espirito e sentimento... isso pode evitar que o futuro tarólogo pegue as causas dos outros para si mesmo, lembre-se dos limites e excessos das leis universais.

...

Fernando Silva é graduado em Letras e História, espiritualista e tarólogo, e atualmente escreve e desenvolve o seu trabalho no site Espiritualidade para Nova Era (cujo link está na nossa lista de sites recomendados aqui no blog).

Sol Rhui & Fernando Silva

Nenhum comentário:

Postar um comentário

TOLKIEN MAPA NATAL

Dados para o cálculo do mapa: Nome: John Ronald Reuel Tolkien Data de Nascimento: 03/01/1892 Hora de Nascimento: 22:00 Cidade...